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quinta-feira, julho 26, 2012

PRÓLOGO - PRIMEIROS CANTOS - De GONÇALVES DIAS


Dei o nome de Primeiros Cantos às poesias que agora publico, por que.
Espero que não serão as últimas. Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes, porque menosprezo regras de mera convenção; adotei todos os ritmos da metrificação portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar melhor com o que eu pretendia exprimir.
Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas diversas - debaixo de céu diverso - e sob a influência de impressões momentâneas.
Foram compostas nas margens viçosas do Mondego e nos píncaros enegrecidos do Gerez - no Doiro e no Teia - sobre as vagas do Atlântico, e nas florestas virgens da América.
Escrevi-as para mim, e não para os outros; contentar-me-ei, se agradarem; e se não... É sempre certo que tive o prazer de tê-las composto. Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o pensamento que me vem de improviso, e as ideias que em mim desperta a vista de uma paisagem ou do oceano - o aspecto enfim da natureza.
Casar assim o pensamento com o sentimento – o coração com o entendimento - a idéia com a paixão - cobrir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com a vida e com a natureza,
Purificar tudo com o sentimento da religião e da divindade, eis a Poesia - a Poesia grande e santa - a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir. O esforço - ainda vão - para chegar a tal resultado é sempre digno de
Louvor; talvez seja este o só merecimento deste volume.

O Público o julgará; tanto melhor se ele o despreza, porque o Autor interessa em acabar com essa vida desgraçada, que se diz de Poeta.
Rio de Janeiro, julho de 1846.

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