No hemisfério sul lá pelo dia 20 de março tem início o outono
Com ele vem o frescor da noite.
As manhãs são mais azuis com luz suave
As flores têm mais cor, as folhas das árvores ganham um verde diferenciado e a produção do estímulo floral ocorre nas folhas.
O sol enuncia seus raios diminuídos;
Sucede ao verão e antecede ao inverno.
O crepúsculo traz um tom de nostalgia
É o tempo de renovação e de transição.
Quanta semelhança com a condição humana!
Sempre existem momentos de transição na vida.
O outono recorda a preparação da transformação que a vida oferta.
Dentro da existência sempre haverá momentos de passagem de uma condição para outra.
Pois, assim, é a vida! Sempre plena de mudanças de uma situação para outra diferente.
Do nascimento à morte, muitas transições ocorrem no ser humano.
São as fases da existência do ser humano. A primeira é a do nascimento, da introdução à vida, é o início de sua participação na história humana. A outra fase é aquela da criança, a fase dos sonhos e da inocência, e aí a criança cresce e passa por muitas transições, desde os primeiros passos, o ensaio dos primitivos sons, até formar a complexidade da fala e da articulação do pensamento.Neste processo de mudanças, vem a adolescência, que antecede a juventude, e já estará introduzido ao mundo dos adultos, no mundo dos perigos. E passa a conhecer o bem e o mal. É uma alteração relevante para sua vida. Então, surge o momento na vida que terá que competir, lutar por seu espaço. Terá que construir uma carreira profissional para sua manutenção material. Agora seu destino estará em jogo. Poderá fazer opções que marcarão para sempre sua existência. Outro desdobramento profundo na vida humana é o matrimônio.
O ser humano deixa de ser ímpar, para ser par. Fará uma experiência de amor, de doação e de convivência com outro ser de sexo diferente ao seu. Agora, o casamento lhe permitirá trabalhar outra forma de ser. Viverá o desafio de que no lugar de ser um, terá que ser dois e, no lugar de ser dois, deverá ser um só no outro. “Será uma só carne” na unidade de dois seres iguais e tão diferentes ao mesmo tempo. Nessa situação de tanta alteração, também tem os anos pesando sobre o corpo físico, os olhos verão menos, a audição diminui, os passos ficam lentos, a mente ganha o esquecimento. É a variação da idade que se encarrega de mostrar nossa fragilidade. No início da vida o ser recém-introduzido no mundo requer cuidados. Agora, o ser já vivido pelos muitos anos solicita naturalmente os cuidados de volta. É o retorno do cuidado.
Mas, as mudanças não param por aí. Nesse universo de transições, chegará um momento crucial para o ser humano que é o fim de sua carreira transitória.
É a fase última da transição humana.
Passará para outra situação de sua condição. A sua humanidade terá um término para continuar em outra condição diferente de todas. É a morte. A morte faz parte da continuidade da vida. É a passagem para o infinito da existência, fora da experiência física. É a penetração no grande desconhecido fora do tempo.
Várias transições ocorrem na vida do ser humano. Pois, assim, é a existência continuamente totalizada de modificações de uma condição para outra. Mas, não podemos esquecer que cada mudança é uma oportunidade para o humano ser mais humano e fazer experiências profundas para seu crescimento emocional, espiritual, racional e de sua consciência. As transições mostram que a vida é mais vida quando feita de mudanças. Essas modificações valem, também, para que sejamos mais sensíveis uns com os outros, visto que todos passam por tais transformações.
As alterações da vida revelam beleza, continuidade e oportunidade de mergulho em nossa dimensão de transcendência. Assim, como o outono os azuis têm mais suavidade pelas manhãs, as floradas têm novas cores. Assim, a vida segue no seu curso de transformações. Efetivamente, têm sempre novas manhãs que trazem novidades, contemplação da formosura e frescor das distintas nuances que a vida carrega em si, tal qual o outono é momento de mudança na natureza.
A vida tem portas que se abrem para que sejamos novos em nós mesmos, no caminho de cada transformação de nossa estrutura humana.
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