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sábado, julho 15, 2017

Ensaio introdutório a Friedrich Nietzsche


       
 Friedrich Wilhelm Nietzsche  (1844-1900) filosofo alemão do século XIX. Foi uns dos filósofos mais críticos da historia da filosofia. Critica a modernidade de seu tempo, critica a religião, a política, critica os valores morais, critica a tradição filosófica racionalista e iluminista, sendo que sua crítica está na raiz do que podemos chamar a “crise da modernidade”, tendo influenciado filósofos contemporâneos como Heidegger, Foucault e outros. Nascido em Roecken, na Prússia, Nietzsche estudou em Bonn e em Leipzig, tornando-se professor de filologia clássica na Universidade de Basileia, na Suíça, em 1869. Sua primeira obra importante foi O nascimento da tragédia (1871), em que início à reinterpretação da filosofia grega em suas origens, considerando-a como ponto de partida do racionalismo que viria a dominar toda a tradição filosófica. Influenciado por Schopenhauer e amigo do compositor Richard Wagner, com quem depois rompeu, Nietzsche formulou uma filosofia que busca ser “afirmativa da vida” e valoriza a vontade. Crítico da moral cristã, em Além do bem e do mal (1886) e na Genealogia da moral (1887) faz uma análise devastadora da moral tradicional que considera baseada na culpa e no ressentimento. Nietzsche escreveu frequentemente sob a forma de aforismos e seu estilo poético faz parte de sua concepção filosófica. O modo de pensar de  Nietzsche busca um novo olha em filosofar de forma  libertária e visando superar as formas limitadoras de Toda  tradição.
*Um filosofo difícil de entender, pois era erudito (ou seja, uma inteligência e de cultura vasta, além de dominar filologia que é estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou da família de muitas línguas).
Temos em Nietzsche

         Temos em Nietzsche um pensamento que abalou as bases do pensamento filosófico, como um filosofo preocupado com a condição do homem no presente, Nietzsche procurou entender como conceitos considerados como absolutos por uma metafísica cristã, calcada em valores gregos, começa então um movimento de entender a perda de consistência dos valores absolutos, denunciando assim todas as formas de mistificação, destruindo assim os velhos ídolos e por fim, a tarefa de pensar novos valores, abrindo novos horizontes para a experiência humana.

           Colocando em etapas, Nietzsche começa destruindo a base desses valores absolutos, a metafísica platônica, que acreditava existir um bem absoluto e imutável, essencial. Nietzsche, ao colocar a questão da morte de Deus, permite pensar a verdade não mais em termos absolutos, mas sim como uma construção, bem como os conceitos de bem e mal, justo e injusto, etc. Podemos discernir então três etapas do pensamento nietzscheano, mas sempre pensando certos temas com a mesma intensidade, mudando somente o enfoque e o apoio que Nietzsche usa.
                 Na primeira fase, podemos perceber um Nietzsche preocupado com o destino da arte e cultura, influenciado por Schopenhauer e Wagner, procurava uma forma de arte livre da erudição e burocracia das artes do período, restaurando um senso trágico de arte, como uma tragédia grega, com uma postura ativa diante da existência.
                Decorre então, na vida de Nietzsche, uma ruptura com a metafísica do artista, um distanciamento da filosofia de Schopenhauer, uma desilusão quanto à obra de arte total, em suas obras seguintes, começando por Humano Demasiado Humano, percebe-se um rompimento com Schopenhauer e uma valorização do conhecimento cientifico como maneira de resolver os problemas que tanto lhe atormentavam, reafinando assim sua habilidade de filólogo e de psicólogo e construindo assim seu método genealógico, como um método de explicação que dissolve o absoluto, o imutável.
              A partir de Assim Falou Zaratustra, começa por assim dizer a terceira fase do pensamento nietzscheano, pensamento esse marcado pelo aparecimento de conceitos, como alem do homem, vontade de poder e o eterno retorno, conceitos fundamentais para o entendimento da obra de Nietzsche. Zaratustra, escrito como um evangelho, escrito em linguagem belíssima e cheia de figuras de linguagem e recursos linguísticos, não obteve a recepção esperada, para tanto, Nietzsche escreveu Para Alem do Bem e do Mal, acompanhado de Para Genealogia da Moral como uma tentativa de explicação para os termos utilizados em Zaratustra, negando todo positivismo como forma de explicação dos fenômenos da natureza, restando somente à vontade de poder como forma de explicação. 
              A verdade, em Nietzsche, é uma ilusão. É uma enganação que tomamos como valor de verdade e serve para manter nossos corpos adestrados, já que ela é aquilo que trava nossas ações, que pontua nossos julgamentos e que define o que vale a pena ser levado a sério. A verdade é, também, aquilo que parte dos “fortes”, é fruto de sua vontade de potência, ou seja, de seu impulso em exercer poder, em viver, em agir sem a sujeição às regras morais. Ou seja, a verdade é uma imposição daqueles que exercem poder.
           Nietzsche, diz, no ensaio “Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral“, que a verdade é aquilo que nasce para evitar a tese Hobbesiana da convivência humana no estado natural (a guerra de todos contra todos). Ela se faz, primeiramente, como uma imposição geral: a linguagem.

           Ética: A ética de Nietzsche como todo o seu pensamento surge de uma crítica e uma oposição à ética tradicional. Ela defende que o pensamento ético iniciado na Grécia com Sócrates, nega os sentidos e a vida, ao focar na razão e em ideias supremas e absolutas, que a cultura ocidental identifica como verdades. 

             
             Nietzsche chama essa ideia de moral de rebanho, onde os fracos, ressentidos, acreditam que serão recompensados em outra vida pela sua vida difícil e obediente aos princípios éticos e religiosos, enquanto os fortes, aristocratas, os senhores são identificados com o mau, àqueles que serão punidos por sua soberba e dominação. E para Nietzsche aqui temos um grande erro histórico, pois para ele o “bom” é justamente o forte, aquele que é dono de si e do seu destino, que age de acordo com a sua vontade vivendo o agora e para si.
             Lógica: O mesmo tipo de crítica faz Nietzsche a lógica. O tema aparece pouco em seus escritos, mas sempre quando aparece ela é rechaçada. Para o filósofo alemão a lógica é uma dessas verdades que a humanidade criou para se consolar dado o mistério da existência.

               É uma criação da linguagem que visa nos dar algum sentido no mundo, deixa-lo mais organizado. Mas é falsa e suas conclusões por tanto são falsas. Para ele a lógica é uma inimiga da vida, que precisa ser mais voltada aos sentidos e menos à razão.
Epistemologia: Como dito, Nietzsche não criou um sistema filosófico, e suas ideias sobre o conhecimento estão diluídas em seus diversos escritos. Entretanto, em geral, os estudiosos concordam que para o filósofo não existe a possibilidade do conhecimento, pois a verdade não está a nosso alcance. As “verdades” que conhecemos são invenções humanas e imposições da cultura. 

               Dessa forma em Nietzsche o que temos é um perspectivismo, ou seja, cada um pode dar a sua perspectiva sobre algo, sobre um fato, sobre uma ideia. É algo relativo, uma interpretação.
Metafísica: Negando a ideia de verdades e de valores supremos, Nietzsche nega à metafísica, declara inclusive que Deus está morto, querendo dizer que este tipo de conhecimento é ilusório e que essas questões não estão ao alcance do homem.

                Assim para o filósofo, metafísica e ontologia eram mais uma crença tradicional que surge com a filosofia clássica grega, cuja qual ele era um crítico ferrenho. Contra a ideia do ser e mais de acordo com sua noção de perspectivismo Nietzsche propunha a ideia de devir, de uma realidade sempre em transformação, sempre em mutação, conceito que empresar do filósofo pré-socrático Heráclito.
               Assim falou Zaratustra: Com o subtítulo de “um livro para todos e para ninguém” essa é a obra mais conhecida e influente de Nietzsche. Ela trás de uma forma poética e fictícia um apanhado geral de suas principais ideias e conceitos.

               O livro narra às aventuras de Zaratustra um profeta e filósofo que se dedica a ensinar aos homens. Entre seus ensinamentos principais está a ideia de que o homem precisa superar todos os seus valores e dar um passo além em sua evolução. Para Zaratustra o homem como o conhecemos está em um estado de transição entre o macaco e o “além-do-homem”, e seus ensinamentos seriam justamente o caminho para que o homem supere a si mesmo a vá além. 

                 O livro é uma dura crítica à civilização, a religião cristã, a moral, enfim, todos os valores milenares que compunham a cultura ocidental no século XIX, e que permanecem presentes ainda em nossos dias, mostrando que o homem ainda não se superou e ainda está distante do “além do homem” profetizado pelo controvertido filósofo alemão.
                Conclusão: Friedrich Nietzsche tem um estilo e apresentou conceitos que o fazem um filósofo único na história da filosofia. Um filósofo de difícil acesso, com um estilo bastante erudito, mas que conseguiu pensar e propor ideias que dizem respeito a toda a sociedade, grupos e classes sociais. 

Um filósofo que ainda suscita muitos debates e tem aspectos de sua filosofia um pouco incompreendidos, que trás trechos polêmicos e ideias que continuam ousadas ainda na segunda década do século XXI, mais de 100 anos depois de sua trágica morte. 

              Um dos pensadores mais influentes do século passado e que tudo indica continuará a ser muito influente por muitos e muitos anos. Uma leitura obrigatória, mesmo aqueles que não se interessam pela filosofia. Pois Nietzsche, como ele mesmo disse filosofava com um martelo, e suas ideias batem forte em nossas cabeças, e são capazes de fazer estragos grandes e abrir nossas mentes para mundos novos e perspectivas inéditas, como poucos homens foram capazes de fazer.
Bibliografia

MARTON, S. Nietzsche: das forças cósmicas aos valores humanos. São Paulo: Brasiliense, 1990.
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral. Tradução de Paulo Cesar Sousa. São Paulo: Companhia de bolso, 2009.
Mondin, Battista. Curso de Filosofia, Vol. 3, 6ª edição. São Paulo: Paulus, 1883.
Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra, 1ª edição. São Paulo: Editora: Martin Claret, 2002.

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terça-feira, junho 13, 2017

O ESPÍRITO LIVRE EM NIETZSCHE

“[...]Pois o que é liberdade? O fato de se ter a vontade de se responsabilizar por si próprio. O fato de se suster a distância que nos distingue. O fato de se tornar indiferente à fadiga, à rigidez, à privação, mesmo à vida. O fato de se estar preparado para sacrificar os homens pela coisa sua, sem deixar de contar a si mesmo neste sacrifício. Liberdade significa: os instintos viris, alegres na guerra e na vitória se apoderaram dos outros instintos - por exemplo, o instinto de ‘felicidade’. O homem que se tornou livre, e muito mais ainda o espírito que se tornou livre pisa sobre o modo de ser desprezível do bem-estar, com o qual sonham o comerciante, o cristão, a vaca, a mulher, o inglês e outros democratas. O homem livre é guerreiro. - A partir de que critério se mensura a liberdade dos indivíduos, assim como dos povos? A partir da resistência que precisa ser superada, a partir do esforço que custa para permanecer em cima. [...]
[...]temos de precisar ser fortes: senão nunca nos tornamos fortes. - Aquelas grandes estufas para uma espécie humana forte, para a mais forte das espécies humanas que até hoje existiu, aquelas coletividades aristocráticas à moda de Roma e de Veneza entendiam a liberdade exatamente no mesmo sentido que eu compreendo esta palavra: enquanto algo que se tem e não se tem, que se quer, que se conquista...”
(Friedrich Nietzsche) Crepúsculo dos Ídolos, Passatempos Intelectuais, §38

sexta-feira, abril 14, 2017

PENSAMENTO CRÍTICO O QUE É? (o presente texto nasce de uma conversa com um amigo jornalista, que me pediu para falar de pensamento crítico numa perspectiva filosófica).


O pensamento crítico é a competência de questionar e analisar de modo autônomo reflexivo qualquer assunto. É racional com os exames, sempre propositado sobre o que, ou em que acreditar ou o que fazer em resposta a uma observação, a uma informação, julga as expressões verbais, julga as expressões escritas, ou argumentativas conceituais. O pensamento crítico é inconformado com o pensamento arbitrário Chamado também por outros, de senso crítico. A palavra “crítica” vem do Grego “kritikos”, significando “a capacidade de fazer julgamentos e emitir seu parecer”.
O Pensamento crítico requer alguns procedimentos:
Não se baseia em opiniões, imaginação, crenças ou no ouvi dizer, me falaram, me contaram, ou fiquei sabendo. Não se fundamenta em emoções, em sensacionalismo. Confronta , analisa , investiga, duvida, põe em prova os fatos analisados e questiona o modo como se constrói uma informação e o modo como se transmite qualquer suposto conhecimento. Quem usa pensamento crítico fica chato, intragável ou é considerado como inteligente ou cético inveterado. Não se permite fácil ao convencimento ante qualquer argumento. Não se conforma, com pensamentos prontos e acabados sem que ele mesmo não ponha a prova o pensamento imposto.
Prioriza encontrar meios funcionais de resolução para analisar, julgar, e emitir o parecer do que foi examinado. Ordena os precedentes e enunciados na investigação e resolução de qualquer que seja a questão a ser pensada. Interpreta pela lógica os dados transmitidos, avalia as evidencias e pondera as formas dos argumentos.
Julga, avalia o uso da linguagem e os mecanismos constituintes da forma de se pensar, escrever, ou de comunicar-se.
Reconhece a existência, ou não existência de relação lógica entre as proposições;
Desconstrói padrões ou crenças baseados em fatos imprecisos, parciais tendenciosos com relevâncias particulares.
Examina cuidadosamente as conclusões e generalizações às quais chegou.
O pensamento crítico é uma ação persistente no empenho de examinar qualquer conceito, noticia, informação, crença ou suposta forma de conhecimento sob a luz de evidências racionais conclusivas que as suportam. As conclusões as quais o pensador crítico produz acena para uma precisão, com clareza, discernimento e confiabilidade. Ele se torna raro e fica temido.
O critério de definir o que é pensamento crítico ou senso crítico tem recebido, com o passar dos tempos, várias definições. Vejamos algumas delas:
"Processo intelectual de conceituação ativa, aplicação, análise, síntese, e/ou avaliação de informações reunidas por observações, experiências, reflexões, raciocínios ou comunicações, como condição para crenças e ações; processo de decisão, juízo autorregulatório, que usa considerações de juízo para evidências e contextos, observações dos conceitos, das ações os métodos e critérios.
O pensamento crítico inclui observação, interpretação, análise, inferência, avaliação, explicação argumentativa e evidências através de observação.
Critérios de relevância para julgar, procedimentos para formar juízos, a capacidade teórica aplicável para entender os problemas e as questões presentes de acordo com o cada contexto". O pensamento crítico emprega não apenas lógica, mas vasto critério intelectual, como clareza, precisão, prontidão, relevância, profundidade, amplitude, significância e coerência. Contudo, o pensamento crítico não tem como finalidade transmitir uma visão pessimista do contexto nem apresentar uma tendência a achar imperfeições e erros em tudo. Sua proposta não é modificar a mentalidade dos indivíduos e sim,fazer ver com um olhar não costumeiro do que é o óbvio. Seu propósito é impedir a padronização e a passividade no modo de pensar e de avaliar os fatos.
Por isso duvidar das origens das notícias, questionar informações, confrontar fatos, ajuizar argumentos, examinar conceitos prontos, ponderar ideias e até usar um grau de ceticismo; em si são condições do pensamento crítico. Daí a necessidade da utilização do pensamento  critico. Ainda mais com noticias procedentes muitas vezes da mídia, por elas quase sempre podem desvirtuar o real. O princípio máximo deste pensamento é questionar o que lê ou escuta e tentar chegar o mais próximo possível das informações objetivas, e com exatidão.

sábado, fevereiro 04, 2017

Nietzsche e o Estado

O Estado é o mais frio de todos os monstros frios; mente friamente e eis a mentira que escorrega da sua boca: ‘ Eu, o Estado, sou o Povo’.” Nietzsche.



O Estado é uma nação politicamente organizada, com o objetivo de regulamentar e proteger os seus cidadãos, através da promoção dos valores democráticos.
Segundo Nietzsche, o Estado foi criado com o fim de supra-valorização da sociedade, com o objetivo da conquista, do poder e de elevar a sua superioridade enquanto sociedade.
O que o levou a equipará-lo a um “monstro frio” que nasce em situações terríveis, contra o povo?

O Estado existe para muitos e devoram indistintamente, os cidadãos. Onde, no Estado, os homens procuram o dinheiro como alavanca que os há de elevar ao poder, de uns sobre os outros, arrastando-os, assim, para o abismo. Pois, o homem não existe para o Estado, mas é este que existe para o homem.

Para além do mais, o Estado identifica-se, aqui, como o Povo, que o representa como uno. Porém, o caráter pluralista da filosofia de Nietzsche impede-o de considerar que o povo seja uma entidade una, ou seja, não se pode identificar a multiplicidade, característica do meio social à unidade do Estado.

Por outro lado, Nietzsche refere que “o monstro frio” é falso e podre; «mente em todas as línguas do bem e do mal; é mentira tudo quanto ele diz e é mentira tudo quanto ele tem».

Nietzsche crítica o Estado. O qual não cumpre as suas “promessas”. E só quem está no Estado, apenas pretende poderio, dinheiro e bens materiais, colocando o interesse pessoal acima do interesse geral, o que contraria a Teoria de Justiça que deveria existir num Estado, em que ‘ o bem coletivo é superior ao bem individual’.

Em segundo lugar, o Estado não poderia ser o povo, na medida em que este não pode administrar um governo, pois, se isso acontecesse o estado era desregrado.
Infelizmente, este “monstro frio” é nosso contemporâneo, o que leva a indagar que nós somos apenas uns primatas a viver impávidos e serenos, num utópico ‘bem-estar’ e que, apenas, contemplamos passivamente tudo aquilo que nos rodeia. Mesmo sabendo que é com a comunicação, com as relações livres entre cidadãos e com a contraposição que o conhecimento se alarga, permitindo um desenvolvimento na sociedade em geral, criando, assim, um bem-estar real . 


Promessa, Esquecimento e divida em NIETZSCHE


A capacidade da relação entre promessa e esquecimento é conceituada por Nietzsche, como a condição de que a capacidade do homem em fazer promessas é uma ação contraria a própria natureza humana e o esquecimento encontra-se oposto a tal capacidade. A relação entre promessa e esquecimento origina-se na construção da memória. A questão de partida para a análise desse tema é a ação que se conjetura no ato de prometer, já que a promessa passa pelo crivo da lembrança, ela retira do ser humano a competência de esquecer e instala as primeiras condições do pensamento causal, pois distingue o casual do imprescindível, consolidando, portanto, o relacionamento entre a decisão da vontade e sua manifestação através da ação. Como efeito, nasce a necessidade de impedir a ação da força devoradora do esquecimento. Para Nietzsche, o esquecimento caracteriza-se por ser uma ação afirmativa, segundo ele,
[...] esquecer não é uma simples força inercial, como creem os superficiais, mas uma força inibidora ativa, positiva no mais rigoroso sentido, graças à qual o que é por nós experimentado, vivenciado, em nós acolhidos não penetra mais em nossa consciência. (NIETZSCHE, Genealogia da moral 2009a, II. p.43).

quinta-feira, fevereiro 02, 2017

O preocupante problema da verdade em tudo o que ouvimos ou lemos.


Uma das atividades da filosofia é duvidar da verdade e questionar as certezas.
A verdade na filosofia é colocada em xeque e por vezes desacreditada. O Filosofo que mais bateu na verdade foi Friedrich Nietzsche, vejamos o que ele disse: “O que é a verdade, portanto? Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso parecem a um povo sólido, canônico e obrigatório”.
A verdade na atividade filosófica é investigada e depois de passar pelo crivo da razão e da atestação dos fatos confrontados ela anunciada não como absoluta, mas para ser avaliada e depois definir se o fato é verdade ou não. Nem tudo que ouvimos ou lemos é de fato verdadeiro. Por outro lado também sabemos que não é bom confundir a verdade com a opinião da maioria. Como no dizer de Giordano Bruno: "É a prova de uma mente inferior o desejar pensar como as massas ou como a maioria, somente porque a maioria é a maioria. A verdade não muda porque é, ou não é acreditada por uma maioria das pessoas". Entretanto o problema está em que a verdade é como um cristal com muitos lados que pode ser analisado de diferentes perspectivas. A minha verdade não será igual a sua, porque eu vejo o mundo através da minha experiência particular, das minhas cognições e das minhas tendências. Nem tudo que ouvimos é verdade, mas costuma-se dizer que a verdade sempre triunfa por si mesma, pois o que não é verdade necessita de muitos cúmplices. A filosofia busca a verdade e não é dona dela. Há ainda conceitos e atitudes de principio filosóficos que duvidarão sempre do conceito do que é Verdade. É o caso dos céticos, somos sabedores de que o ceticismo é a incredulidade da verdade. Aquele indivíduo que tem predisposição e coragem para duvidar da verdade é chamado de cético. Para a corrente filosófica conhecida como relativismo a verdade é relativa, ou seja, não existe uma verdade absoluta que se aplique no plano geral. Assim, a verdade pode se aplicar para algumas pessoas e para outras não, pois depende da perspectiva e contexto de cada um. Existe a verdade por correspondência é aquela que é verdade todo o tempo e em todos os lugares e que os fatos se constatam por si mesmos. É exatamente o que é verdade para uma pessoa é verdade para todos. Ex: Todos precisam de ar para respirar. As pessoas não podem viver ao mesmo tempo no passado e no futuro. A lua está distante da terra, um tiro de arma de fogo pode matar e etc.
Entretanto o que é verdade, como é onde encontrar? Como posso saber o que é de fato verdadeiro? A reposta tem que se dada pelo próprio sujeito que vive em busca da verdade.
Uma das características do ser humano é a busca permanente pela verdade, é o desejo de comprovar a veracidade dos fatos e de distinguir o verdadeiro do falso e que frequentemente nos coloca dúvidas no que nos foi ensinado. A busca pela verdade surge logo na infância e ao longo da vida, estamos sempre questionando as verdades estabelecidas pela sociedade e a filosofia tem na investigação da verdade o seu maior valor. Busque a vossa verdade e não a verdade dos outros e se a verdade dos outros for verdade para você, que seja com sua investigação e não o ouvi falar.


sexta-feira, janeiro 06, 2017

A Indagação das Causas e dos Princípios


Visto que esta ciência (a filosofia) é o objeto das nossas indagações, examinemos de que causas e de que princípios se ocupam a filosofia como ciência; questão que se tomará muito mais clara se examinarmos as diversas ideias que formamos do filósofo. Em primeiro lugar, concebemos o filósofo principalmente como conhecedor do conjunto das coisas, enquanto é possível, sem, contudo possuir a ciência de cada uma delas em particular. Em seguida, àquele que pode alcançar o conhecimento de coisas difíceis, aquelas a que só se chega vencendo graves dificuldades, não lhe chamaremos filósofo? De fato, conhecer pelos sentidos é uma faculdade comum a todos, e um conhecimento que se adquire sem esforço em nada tem de filosófico. Finalmente, o que tem as mais rigorosas noções das causas, e que melhor ensina estas noções, é mais filósofo do que todos os outros em todas as ciências. E, entre as ciências, aquela que se procura por si mesma, só pelo anseio do saber, é mais filosófica do que a que se estuda pelos seus resultados; assim como a que domina as mais é mais filosófica do que a que se encontra subordinada a qualquer outra. Não, o filósofo não deve receber leis, mas sim dá-las; nem é necessário que obedeça a outrem, mas deve obedecer-lhe o que seja menos filósofo. 
(...) Pois bem: o filósofo que possuir perfeitamente a ciência do geral tem necessariamente a ciência de todas as coisas, porque um homem em tais circunstâncias sabe, de certo modo, tudo quanto está compreendido sob o geral. Todavia, pode dizer-se também que se toma muito difícil ao homem alçar-se aos conhecimentos mais gerais; as coisas que são seus objetos como que estão mais distantes do alcance dos sentidos. (...) De tudo quanto dissemos sobre a própria ciência resulta a definição da filosofia que procuramos. É imprescindível que seja a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas, porque uma das causas é o bem, a razão final. E que não é uma ciência prática, prova-o o exemplo dos que primeiramente filosofaram. O que, a princípio, levou os homens a fazerem as primeiras indagações filosóficas foi como é hoje, a admiração. Entre os objetos que admiravam e que não podiam explicar, aplicaram-se primeiro aos que se encontravam ao seu alcance; depois, passo a passo, quiseram explicar os fenômenos mais importantes; por exemplo, as diversas fases da Lua, o trajeto do Sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Ir à procura duma explicação e admirar-se é reconhecer que se ignora. (...) Portanto, se os primeiros filósofos filosofaram para se libertarem da ignorância, é evidente que se consagraram à ciência para saber, e não com vista à utilidade.

Aristóteles, in 'Metafísica’.