Translate

segunda-feira, setembro 24, 2012

CREIO AO MEU MODO


"É a prova de uma mente inferior o desejar pensar como as massas ou como a maioria, somente porque a maioria é a maioria. A verdade não muda porque é, ou não é acreditada por uma maioria das pessoas".-Giordano Bruno- _________________ Existe algo errado inacabado o absurdo existe em toda parte. Onde está o perfeito? Questiono se existe perfeição onde ele está? As coisas parecem não ter sentido nem ter fundamento. Porque, às vezes, foge à fé naquele que é o Espírito de absoluta perfeição? O que é fé? Um recurso para se explicar o que não pode se explicado a luz da razão? Ela é uma saída para aquilo que não se tem certeza de algo que não se sabe ao certo? Se encontrares o sentido das coisas na fé, es um bem aventurado. Se entenderes pela fé, que o Perfeito é real, então, viveras por meio dele em fé, pois o profeta Hebreu diz o “Justo viverá da fé”. Não sou hipócrita para “crê por costume invertebrado” como disse Giordano Bruno E faço eco das palavras dele: "Se creio, tenho recompensa e se não creio, por que seria condenado? Estaria errado em não crê por costume ou por mera convenção? Que ninguém me obrigue ou me condene porque não quero crê". Porque os outros querem que eu creia? Quem tem que querer crê sou eu. Ninguém pode crer pelos outros. Contudo se creio isso basta. E Se não quero Crer e penso que sou sustentado sem crer? Crerei por minha própria convicção e não de outros. Crerei por mim. Inventei minha própria fé, a fé ao meu Jeito... Sim, eu creio, mas ao meu modo. Não creio no perfeito das religiões e nunca na maneira da fé religiosa. A fé religiosa pertence à própria religião e nunca ao indivíduo. Pode ser que o indivíduo tenha sua própria fé no contexto da religião. Contudo, as religiões se enganam e, é por isso que não quero crê do modo delas, pois são repetitivas e viciosas e Manietadoras. A fé que possuo é do meu modo. Eu a tenho, mas não do modo religioso institucionalizado e Pragmático. Já que eu posso crê me responsabilizo pelo que creio e como creio. E ninguém pode me julgar por tal direito que é meu. O DE CRER AO MEU MODO... Copyright André Assis. Todos os direitos reservados.

Pensar a Vida Traz Pesar.


Pensar a vida, diz Salomão “É uma tarefa que acaba sendo como que correr a trás do vento”. Concordo com Salomão, pensar a vida é uma ocupação que trás pesar. Quando refletimos a vida vamos-nos, desapontando, fatigando, angustiando e acabamos nos decepcionado ao percorrermos os nossos raciocínios e não obtemos respostas às questões problemáticas que a vida nos impõe. “pensar a vida trás pesar”. Ao olhar nas praças crianças abandonadas sujas e com fome; mendigos que utilizam jornais para se cobrirem nas calçadas em noite fria, conflito-me comigo mesmo. Diante dessas desventuras que conhecemos dentro da vida isso me deixa mal-humorado com a própria vida. Quando me lembro dos demônios que dizimaram milhões de judeus que além dos homens, incluía crianças, mulheres, e idosos nos campos de extermínio de Auschwitez, Belzec, Chelmno, Janov, Majdanek, Stuttof, e Treblinka, diante disso digo como Salomão, no livro de Eclesiastes “Detesto a vida”. Ao Enxergar nessa vida detentores de fortunas incalculáveis, grandes impérios mobilizados pelo poder econômico. Enquanto que outros muito mal possuem um par de chinelos para os pés. O sistema de acumulação favorece uma classe exclusiva dominante produzindo, consequentemente, outra classe: a dos espoliados e dos indigentes que lutam desesperadamente pela sua sobrevivência. Um grande abismo de separação existe entre os privilegiados e os desfavorecidos. Milhões e milhões são gastos com investimentos bélicos por nações que adotam a postura do terror querendo, a qualquer custo, o topo do poder mundial. Outros incontáveis milhões de dólares são consumidos com projetos de exploração espaciais. E por outro lado, humanos miseráveis são esquecidos morrendo de fome em toda parte do mundo. Que prazer tem a vida para as centenas de crianças que passam fome no Brasil na índia e em alguns países pobres da áfrica? E aquelas pessoas que sobrevivem de catar lixo que gosto tem a vida para elas? E as outras crianças, as quais lhes são furtadas o direito de estudarem e do laser para trabalharem precocemente para sobreviverem? O descaso aos idosos e as pessoas de baixa renda? O desprezo aos pobres? As barrigas vazias e as panelas desocupadas? Isso é vida? Não, não é vida é aflição “É morrer, pois amada não é, e verbo é sofrer”. Que virtude se tem em pensar o sentido da vida nessas circunstâncias funestas. Salomão faço coro contigo nestas Condições e digo detesto a vida quando desse jeito se coloca Vida, vida, porque te fazes assim? Onde está tua gentileza, porque no lugar da ternura, a rigidez? Da doçura o amargo?
E onde está o teu aconchego? E a elegeria dos que buscam felicidade? Tu a uns desprezas e a outros não? A uns concede que chorem e a outros credita alegrias? Os miseráveis pranteiam e os outros são protagonistas de muitas alegrias e das boas dádivas. Ó vida, estou cansado de vê teus equívocos. Para uns se faz traidora, e de outra benfeitora. Arrisco em dizer que nem tu sabes as coisas que fazes e quando fazes as coisas ignora o que fazes. Oh vida tu não es mais ingrata por que existe a fé à esperança e o amor e a solidariedade. São os Virtuosos dentro da vida que exercem a solidariedade que amenizam um pouco o impacto devastador dos que sofrem. Copyright André Assis. Todos os direitos reservados.

domingo, setembro 23, 2012

Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago. Resenha


A romper-se um repentino e inexplicável surto de cegueira, Saramago nos faz vê a desorganização e a superação dos valores fundamentais da sociedade, transformando seus personagens em animais egocêntricos na luta pela sobrevivência. No em saio sobre a Cegueira Saramago nos faz enxergar muito mais do que isso, nos faz ver a própria humanidade frente a uma condição de caos. Logo de inicio deparamo-nos com a exclamação de um personagem: "Estou cego” com objetividade e com um discurso coerente, vemos que os acontecimentos narrados prendam a atenção do leitor levando-nos quase para que dentro da narração. Vários personagens vão se tornando cegos. O autor omite o nome da cidade, não há datas e os seus personagens são anônimos, conhecidos apenas como "a mulher do médico", "o homem da venda preta", "a rapariga dos óculos escuros" ou "o cão das lágrimas". A narração de Saramago passa a ficar tão claro à imaginação do leitor, que é impossível não temer uma verdadeira epidemia, imaginarmos como agiriam as autoridades governamentais em uma situação como essa, como o medo faria vir à tona os instintos mais escondidos dos homens. Existe uma mulher que ainda consegue enxergar. Entre tantos cegos presos em um manicômio por ordem governamental, é a esposa do médico, que faz lembrar outra personagem de Saramago: Blimunda, de Memorial do Convento, que tem a capacidade de enxergar o interior das pessoas, mas nem por isso sentia-se privilegiada, pois algumas vezes tinha que ver aquilo que não queria. Do mesmo modo, a mulher do médico é a única que pode ver as belas e horrorosas imagens descritas pelo autor, seja o lindo banho de chuva das mulheres na varanda ou os cachorros que devoram o cadáver de um homem na rua. Ela não sabe se é abençoada ou amaldiçoada por poder enxergar em uma terra de cegos. Do mesmo modo, o velho da venda preta (apesar de antes da cegueira enxergar apenas com um dos olhos) narra o que acontece do lado de fora do manicômio, por meio das notícias do rádio e do que via quando ainda estava do lado de fora. É ele que abre os olhos do leitor para a realidade do mundo, o caos que se pode instalar a qualquer momento, as atitudes impensadas de quem está no poder tentando isolar o problema ao invés de estudá-lo. Regras são quebradas, pois ninguém mais vê quem está agindo errado; os mais fortes abusam do poder; e o instinto de sobrevivência vai tomando conta dos homens. Saramago prefere pelo anonimato das personagens, como uma maneira de universalizar a experiência, abrangendo todas as pessoas, todos os nomes. Ao fazê-lo somos levados para o universo ficcional e experimentamos a cada página a dolorosa trajetória das personagens do romance. A reação de muitos leitores, que se dizem incapazes de terminar de ler o livro, dada a sua crueza e contundência, é prova de que o autor atingiu o seu objetivo de inserir-nos no seu universo ficcional, muito embora muitos de nós ainda estejamos nos recusando a "atender" naquilo que nossos olhos nos mostram. O Ensaio sobre a cegueira é a alegoria de um autor que nos faz pensar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma oportunidade de refletir a contemporaneidade tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos faz pensar diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"
Resumo Um dia normal na cidade. Os carros parados numa esquinas esperam o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfurecidas e à gente que bate nos vidros, percebe-se o movimento da boca do motorista, formando duas palavras: "Estou cego". O homem dentro do carro esbraceja, grita, mas não consegue escapar da cegueira branca que inunda seus olhos. É uma cegueira diferente, luminosa, como se ele tivesse mergulhado de olhos abertos num "mar de leite". Apesar disso, seus olhos tem uma aparência normal. As pessoas o ajudam a sair do carro e ele, entre lágrimas, implora que alguém o leve para casa. Um homem oferece-se para ir dirigindo seu carro. Como não havia local disponível para estacionar na rua da cada do cego, ele desceu do carro e ficou esperando o homem, que estacionou numa rua transversal. Subiram até o apartamento, que ficava no 3º andar. O homem quis aguardar até que a mulher do cego chegasse, mas este, com medo daquele estranho, preferiu recusar a oferta. Quando a mulher chega e o marido lhe conta que está cego, ela custa a acreditar, depois se desespera e liga para o primeiro oftalmologista que encontra na lista telefônica, marcando uma consulta urgente. O cego aguarda em frente ao prédio enquanto sua mulher vai buscar o carro na rua em que ele disse estar estacionado, com sua própria chave, pois o homem que o levou para casa não lhe- entregou a chave. Ela volta com um táxi, pois aquela "boa alma" roubou-lhes o carro. Na sala de espera do consultório estava um velho com uma venda preta, um rapazinho estrábico e sua mãe, uma rapariga de óculos escuros e mais duas pessoas. Passaram o cego na frente dos outros pacientes e, depois de examiná-lo minuciosamente por duas vezes, o médico conclui que não há nada de errado com seus olhos; estavam aparentemente perfeitos. Pediu alguns exames mais detalhados e, quando saíram, ficou pensativo, nunca vira coisa parecida em toda sua vida. O sentimento de culpa foi tomando conta do ladrão do carro. Quando se ofereceu para ajudar o cego, ainda não tinha o roubo em mente; a ideia só lhe apareceu quando estava em direção à casa do cego. Sentia-se mal estando sentado no mesmo lugar onde um homem sadio acabara de cegar. Nervoso, o ladrão redobrou a atenção e começou a controlar o carro para que nunca tivesse que parar num sinal vermelho. Estava à beira de um ataque de nervos e o barracão para onde costumava levar os carros roubados ficava longe dali. Então, parou o carro, desceu para tomar um pouco de ar, andou um pouco e, de repente, cegou. Foi encontrado por um policial que o levou para casa, desta vez não por ter roubado, o policial não sabia disto, mas sim por não ser capaz de orientar-se sozinho. O caso da rapariga dos óculos escuros era simples, apenas uma conjuntivite. Quando saiu do consultório, já à noite, chamou um táxi, passou na farmácia e comprou o colírio que o médico lhe receitara. A bela rapariga dos óculos escuros era uma prostituta e tinha um encontro marcado num hotel aquela noite. Depois do explosivo encontro amoroso, ainda via tudo branco, mas não era por causa do êxtase que sentia, ela também cegara. Nua e aos gritos, a rapariga foi vestida às pressas e colocada para fora do hotel. Um policial extremamente grosseiro levou-a para a casa dos pais num táxi. Depois de atender todos os pacientes, o médico ligou para um amigo e falou sobre o caso. A princípio suspeitaram de uma agnosia ou amaurose, mesmo sabendo que ambas as doenças tratavam-se de cegueira negra, o oposto do que descrevia o cego. Resolveram marcar uma nova consulta para examinarem junto o paciente. Chegando a casa, o médico ficou até altas horas pesquisando sobre o assunto em seus livros. Quando resolveu guardá-los para ir se deitar, o médico cegou. Deitou-se devagar para que a mulher não notasse e passou a noite toda em claro, pensando que, como oftalmologista, deveria avisar as autoridades competentes sobre a "treva branca" altamente contagiosa que estava a se espalhar. Quando, na manhã seguinte, contou à sua mulher que estava cego, ela abraçou-o com força, apesar de ele ter tentado afastá-la por medo do contágio, preparou o café e ajudou-o a telefonar para as autoridades. Diante da grosseria com que fora tratado, resolveu avisar diretamente o diretor clínico de onde trabalhava e este se encarregaria de fazer os outros contatos. A essa altura, já tinham notícia da cegueira do rapazinho estrábico, da rapariga dos óculos escuros e do ladrão. O ministério pediu que ele arrumasse as malas, pois mandariam uma ambulância para buscá-lo, mas não avisaram para onde ele seria levado. Quando a ambulância chegou, a mulher ajudou o marido a acomodar-se, guardou as malas e sentou-se ao seu lado. O motorista da ambulância informou que só poderia levar o médico, mas a mulher disse que também teria que ser levada, pois acabara de cegar. O ministro teve a "brilhante idéia" de deixar todos os cegos e as pessoas que tiveram contato com eles de quarentena, uma quarentena diferente das outras, pois esta ninguém sabia o quanto poderia durar. O local escolhido foi um manicômio desativado. Havia duas alas: uma seria ocupada pelos cegos, e a outra, pelas pessoas que tiveram contato com eles. Conforme as pessoas da última ala fossem cegando, atravessariam o corredor e se instalariam na outra ala. Os primeiros a chegar ao manicômio foram o médico e a mulher. Havia uma corda esticada do portão à porta do prédio, a qual serviria para orientar os cegos. Subiu às escadas, a mulher guiou o marido até o fundo da camarata mais próxima e deixou-o lá sentado, enquanto ia conhecer melhor o local. As camaratas eram compridas, com duas filas de camas pintadas de cinza e roupas de cama da mesma cor. Havia várias camaratas, corredores estreitos e longos, gabinetes, banheiros, uma cozinha, um refeitório, três salas acolchoadas e forradas com cortiça; do lado externo, uma cerca e algumas árvores mal cuidadas. Havia lixo por todos os lados e camisas de força dentro dos armários. Só quando a mulher retorna e conta para o marido que o local onde estão é um manicômio, é que ele percebe que ela não está cega. A mulher do médico fingiu estar cega para poder ficar junto com o marido e ajudá-lo. Os outros cegos chegaram juntos: o primeiro cego, o ladrão, a rapariga dos óculos escuros e o rapazinho estrábico, sem a mãe. Sentaram-se na primeira cama com a qual tropeçaram. Nesse momento, ouve-se uma voz forte e seca no alto-falante fixado em cima da porta:
Atenção! Atenção! Atenção! O Governo lamenta ter sido forçado a exercer energicamente o que considera ser seu direito e seu dever, proteger por todos os meios às populações na crise que estamos a atravessar, quando parece verificar-se algo de semelhante a um surto epidêmico de cegueira, provisoriamente designado por mal-branco, e desejaria poder contar com o civismo e a colaboração de todos os cidadãos para estancar a propagação do contágio, supondo que de um contágio se trata, supondo que não estaremos apenas perante uma série de coincidências por enquanto inexplicáveis. A decisão de reunir num mesmo local as pessoas afetadas, e, em local próximo, mas separado, as que com elas tiveram algum tipo de contato, não foi tomada sem séria ponderação. O Governo está perfeitamente consciente das suas responsabilidades e espera que aqueles a quem esta mensagem se dirige assumam também, como cumpridores cidadãos que devem ser, as responsabilidades que lhes competem, pensando que o isolamento em que agora se encontram representará, acima de quaisquer outras considerações pessoais, um ato de solidariedade para com o resto da comunidade nacional. Dito isto, pedimos a atenção de todos para as instruções que se seguem, primeiro, as luzes manter-se-ão sempre acesas, será inútil qualquer tentativa de manipular os interruptores, não funcionam, segundo, abandonar o edifício sem autorização significará morte imediata, terceiro, em cada camarata existe um telefone que só poderá ser utilizado para requisitar ao exterior a reposição de produtos de higiene e limpeza, quarto, os internados lavarão manualmente as suas roupas, quinto, recomenda-se a eleição de responsáveis de camarata, trata-se de uma recomendação, não de uma ordem, os internados organizar-se-ão como melhor entenderem, desde que cumpram as regras anteriores e as que seguidamente continuamos a enunciar, sexto, três vezes ao dia serão depositadas caixas de comida na porta de entrada, à direita e à esquerda, destinadas, respectivamente, aos pacientes e aos suspeitos de contágio, sétimo, todos os restos deverão ser queimados, considerando-se restos, para este efeito, além de qualquer comida sobrante, as caixas, os pratos e os talheres, que estão fabricados de materiais combustíveis, oitavo, a queima deverá ser efetuada nos pátios interiores do edifício ou na cerca, nono, os internados são responsáveis por todas as consequências negativas dessas queimas, décimo, em caso de incêndio, seja ele fortuito ou intencional, os bombeiros não intervirão décimo primeiro, igualmente não deverão os internados contar com nenhum tipo de intervenção do exterior na hipótese de virem a verificar-se doenças entre eles, assim como a ocorrência de desordens ou agressões, décimo segundo, em caso de morte, seja qual for à causa, os internados enterrarão sem formalidades o cadáver na cerca, décimo terceiro, a comunicação entre a ala dos pacientes e a ala dos suspeitos de contágio far-se-á pelo corpo central do edifício, o mesmo por onde entraram, décimo quarto, os suspeitos de contágio que vierem a cegar transitarão imediatamente para a ala dos que já estão cegos, décimo quinto, Esta. Comunicação será repetida todos os dias, há esta mesma hora, para conhecimento dos novos ingressados. O Governo e a Nação esperam que cada um cumpra o seu dever. Boas noites. Após o silêncio, o ladrão levanta-se e acusa o primeiro cego de ser o culpado da tragédia, diz que se não o tivesse ajudado a ir para casa, não teria cegado. Agora o primeiro cego percebe que o outro homem é o ladrão que roubou seu carro e começam a discutir. O ladrão avança sobre ele e rolam por entre as camas, até que o médico e sua mulher conseguem separá-los. O rapazinho estrábico pede para fazer xixi e, ouvindo isso, surge em todos uma grande vontade de urinar. Decidem ir todos juntos à procura do banheiro. Na fila vão: a mulher do médico, a rapariga segurando o rapazinho pela mão, o ladrão, o médico e, por fim, o primeiro cego. O ladrão, aproveitando-se da situação, começou a acariciar a nuca e os seios da rapariga. Esta lhe deu um coice e o salto de seu sapato fincou-se na coxa do homem. O sangue corria pela perna e a mulher do médico, vendo o aspecto ruim da ferida, levou-o à cozinha, com a ajuda do marido, lavou o ferimento e amarrou a camisola do ladrão ao redor. Voltaram para procurar o banheiro, mas o rapazinho já havia feito xixi nas calças. Depois de satisfazerem suas necessidades, voltaram para a camarata, e contaram as camas para ficar mais fácil de encontrá-las depois. O rapazinho tinha fome, mas teria que esperar até o dia seguinte. Deitaram-se e dormiram. A mulher do médico foi a primeira a acordar. Observando os cegos dormindo e a sujeira ao redor, a mulher do médico desejou com todas as suas forças estar cega também. Nesse momento, ouve-se uma gritaria vinda do corredor. Cinco pessoas da outra ala cegaram e foram empurradas para a ala dos cegos. Eram eles: o policial, que encontrou o ladrão na rua a gritar; o motorista de táxi, que levou o primeiro cego ao médico; o ajudante de farmácia, que vendeu o colírio à rapariga dos óculos escuros; a criada de hotel, que socorreu a rapariga quando esta cegou; e a empregada de escritório, que é a mulher do primeiro cego. O alto-falante avisou que a comida podia ser recolhida. O cego e sua mulher saíram para pegar a comida e aproveitaram para pedir aos guardas os medicamentos para o ferido, mas estes tinham ordens expressas de não deixar entrar nada além de comida. À tarde chegaram mais três cegos: a empregada do consultório médico, o homem que estivera com a rapariga no hotel e o policial grosseiro que a levou para a casa dos pais. Mal se instalaram e um rebanho de cegos entrou na camarata. Todas as camas foram ocupadas. Na madrugada, o ladrão resolveu ir ele próprio pedir ajuda aos guardas, imaginando que estes sentiriam pena ao vê-lo naquele estado lamentável. Rastejou, cheio de dores, até o portão. Ao ouvir os ruídos, o soldado foi verificar o que estava acontecendo, assustou-se com o cego e deu-lhe um tiro no meio da cara. O sargento, acordado com o barulho da rajada, ordenou que quatro cegos viessem recolher o corpo. Copyright André Assis. Todos os direitos reservados...