Translate

quinta-feira, junho 18, 2015

O Anarquismo e sua História

(Os Créditos do texto pertence ao M.L.E Movimento Libertário Estudantil) _ No sentido comum, a anarquia sempre foi o caos, a desordem. A palavra transformou-se em sinônimo de bagunça e os cronistas e maioria dos historiadores de hoje jamais lograram repor o significado veraz de um passado glorioso e, no mínimo, construtivo. Por paradoxal que pareça, anarquia não é bagunça, muito menos desordem. Mas não é com apenas uma pequena dose de purgante que se limpam quase dois séculos de distorções acumuladas na cabeça dos homens e alimentadas dia a dia. A idéia de caos na sociedade está bem distante do que um dia pensou Tolstoi, Godwin, Thoreau ou Kropotkin (pensadores anarquistas). A palavra ANARCHOS, em grego, pode ser usada para definir desordem na falta de um governo, ou quando não existe necessidade dele. Portanto, anarquia, etimologicamente quer dizer sem governo, sem autoridade, sem superiores. Somente. Os franceses tiveram a honra de usar a palavra pejorativamente pela primeira vez. Durante a Revolução Francesa, os girondinos usaram-na para injuriar seus adversários da esquerda. Brissot xingava os Enragés de anarquistas. Robespierre foi vítima da mesma pecha. Coube a Pierre-Joseph Proudhon a recuperação e cunhagem do termo anos depois, ao reivindicar para si o título de anarquista, usando-o de maneira positiva e aproveitando a ambigüidade da palavra original grega. Sebastien Faure, outro teórico anarquista, diria depois: "quem negue a autoridade e a combate é um anarquista". Woodcock, em 1960, completou a definição relativizando-a: "todo anarquista nega a autoridade, muitos a combatem". E a idéia do caos continua distante. O que atualmente se sabe dos anarquistas foi plantado seguramente com a aparição, no cenário político, de Bakunin, um russo curioso e instigante. Antes dele os historiadores detectam outros personagens fora do contexto conturbado da luta política, das barricadas, das reuniões internacionais, das greves e das fugas espetaculosas. Willian Godwin, Thoreau ou Max Stiner, por exemplo, desenvolveram seus projetos à parte do movimento dito anarquista, frutos apenas do espírito do tempo. Todos os anarquistas concordam que o homem possui, por natureza, todos os atributos necessários para viver em liberdade e concórdia social. Não acreditam que o homem seja bom por natureza, mas estão convencidos de que o seja por natureza social. A isto Proudhon dá o nome de "imanente senso humano de justiça". Kropotkin acha que uma sociedade livre seria uma sociedade natural. Godwin raciocina no sentido de que se o homem é por natureza capaz de viver em uma sociedade livre, é evidente que aqueles que tentarem impor leis serão os verdadeiros inimigos da sociedade. Neste caso, o anarquista, ao contrário do emérito destruidor, seria o regenerador que vai restabelecer o equilíbrio necessário à sociedade. Quem fala em equilíbrio não pensa em caos. O ódio visceral de todos os anarquistas é contra este leviatã da sociedade moderna, este organismo imenso e todo-poderoso, a síntese da autoridade e da centralização, a espada de Dâmocles que, pendida sobre a cabeça de cada cidadão, foi paulatinamente conquistando o poder político, econômico e social: o Estado. Todos o fulminam com invectivas e adjetivos. Consideram-no seu inimigo. E os anarquistas não fizeram mais, até hoje, do que combater o Estado, o governo, a autoridade. Certo, todos hão de convir, jamais se encontrará na história do anarquismo, se olhada desde o ponto de vista oficial, uma vitória maior e duradoura. O anarquismo, grosso modo, talvez possa significar também comunidades federadas e autônomas. Por isto os anarquistas criticam em primeiro lugar a democracia burguesa que criou e garantiu a existência permanente de uma aristocracia governamental e nunca deixam de denunciar o sufrágio universal. Rejeitam categoricamente a participação política no Estado e boicotam as urnas. Profetizaram o fracasso do comunismo de Estado e denunciaram o autoritarismo presente em Marx quando o combateram dentro de sua organização, a I Internacional, e levaram a melhor. Antológica a observação de Kropotkin, na Rússia, em outubro de 1917, quando os bolcheviques publicaram os primeiros decretos tornando oficial o que já era fato consumado, a expropriação das terras e das indústrias, criticando a usurpação pelo Estado do que já era conquista de massas trabalhadoras: "Eles estão sepultando a revolução". Pode-se argumentar que outra atitude não seria possível aos bolcheviques no momento. Mas tanto Kropotkin como os outros anarquistas foram até a morte contrários à tomada de poder, à tomada do Estado. Defendiam sua abolição. Outro fundamento básico é que cada comunidade, cada indivíduo, para os anarquistas, deve determinar sua vida. As minorias têm todo o direito de discordar e fazer diferentemente, o homem precisa ser livre. Ingenuidade? Talvez. Não há como negar este componente e todas as formulações ácratas (acracia significa, em grego, sem governo; é sinônimo de anarquia). Na comunidade ou fora dela alguém só pode ser livre se os outros também o forem, ensinou Bakunin num momento caloroso de seu histórico debate dentro do movimento internacional dos trabalhadores. Seu discurso foi particularmente interessante: "Detesto a comunhão, porque o comunismo concentra e engole, em benefício do Estado, todas as forças da sociedade; porque conduz inevitavelmente à concentração da propriedade nas mãos do Estado, enquanto eu proponho a abolição do Estado, a extinção definitiva do princípio mesmo da autoridade e tutela, próprios do Estado, no qual, com o pretexto de moralizar e civilizar os homens, conseguiu até agora somente escravizá-los, persegui-los e corrompe-los. Quero que a sociedade e a propriedade coletiva ou social estejam organizadas de baixo para cima por meio da livre associação e não de cima para baixo mediante autoridade, seja de que classe for. Proponho a abolição do Estado, proponho ao mesmo tempo a abolição da propriedade pessoal recebida em herança, a qual não é senão uma instituição do Estado, uma conseqüência direta dos princípios do Estado. Eis aí senhores por que eu sou coletivista e não comunista". Nenhum centro de poder poderia obrigar ninguém a trabalhar. Cada pessoa seria o juiz de suas próprias exigências, tomando dos armazéns comuns tudo que considerasse necessário, contribuindo ou não com sua parte no trabalho. Este que foi considerado o generoso otimismo de Kropotkin levou-o a estabelecer que, uma vez eliminados o poder político e a exploração econômica, todos os homens trabalhariam voluntariamente, sem nenhum tipo de obrigação e não pegariam dos armazéns comunais nada mais do que o necessário para uma existência confortável. Baseavam-se na convicção de que a libertação, antes de ser coletiva e material, tinha que ser individual e mental. Para os anarquistas sindicalistas a GREVE GERAL é o supremo instrumento estratégico revolucionário. Concebem a sociedade formada de produtores de um lado e parasitas do outro. O sindicato une estes produtores com uma única finalidade: a luta. Por isso é válida toda e qualquer forma de paralisação ou greve que manifeste as insatisfações dos sindicatos e é importante que ocorra a adesão dos companheiros de sindicatos em solidariedade aos colegas. Lembrando que não é, para os anarquistas, da obrigação de cada sindicalista aderir ao movimento do grupo. A liberdade de escolha é sempre respeitada. Isso pode se dar em todos os tipos de grupos sociais como os estudantes e professores nos colégios, rodoviários, comerciantes, etc... No final do século passado e no começo deste, imbuídos do fervor anarquista, a maioria dos sindicatos franceses tomou posições hostis frente ao Estado e foi contrária à tomada do poder político. Inclinou-se para uma revolução social que destruiria o sistema capitalista e inauguraria uma sociedade sem Estado, cuja economia seria dirigida por uma confederação geral de sindicatos. No Brasil é famosa sobretudo a greve geral de 1917 que se alastrou por TODO O PAÍS, organizada e comandada pelos militantes anárquicos aqui radicados, muitos dos quais depois perseguidos pela repressão do Estado e pelo stalinismo, que literalmente tentou arrasar com o anarquismo em todo o planeta - tendo-o logrado completamente na URSS. Mas apesar dos mesquinhos estereótipos e repressões destinados ao movimento anarquista, enquanto o Estado (que tem se demonstrado medíocre, autoritário e fraudulento, tanto no Brasil como em outros países) existir, militantes libertários estarão ativos em seus bairros, universidades, colégios, internet, trabalhos ou sindicatos pela insubmissão, liberdade, apoio-mútuo e autogestão! ( Movimento Libertário Estudantil )

José Saramago:

O que quero dizer é que não vejo motivo para deixar de ser aquilo que sempre fui: alguém que está convencido de que o mundo em que vivemos não vai bem; convencido de que a aspiração legítima e única que justifica a vida, ou seja, a felicidade do ser humano, está sendo fraudada diariamente; e que a exploração do homem pelo homem continua a existir. Nós, seres humanos, não podemos aceitar as coisas tais como elas são, pois isso nos conduz diariamente ao suicídio. É preciso acreditar em algo e, sobretudo, é preciso ter um sentimento de responsabilidade coletiva, pelo qual cada um de nós é responsável por todos os outros. E isso eu não consigo ver no capitalismo." “José Saramago: ‘Nunca espere nada de la vida, por eso lo tengo todo’”, Faro de Vigo, Vigo, 20 de Novembro de 1994 [Entrevista a Rogelio Garrido] Apud AGUILERA, Fernando Gomez Org. e Sel.) As palavras de Saramago. p. 347

quarta-feira, junho 17, 2015

DICOTOMIA entre POLÍTICA e POLITICAGEM (Uma breve resenha Crítica,)

_______Presencio muita gente discutindo ideologia partidária, deflagrando sistemas de ideias com um ponto de vista politiqueiro sem fundamentação do sentido original da palavra POLÍTICA. Muitas pessoas não tem uma informação do que seja o sentido lato da palavra e prática política. Não raro, ouvimos o jargão: “política não se discute”. Sim, política se discute o que não se arrazoa é politicagem. Para muitos o entendimento de política é de partido político ou a de político corrupto, aproveitador, praticante da injustiça e de atos ilícitos. Contudo, desejo decepcionar os leitores desse artigo; isso não é política e sim, “politicagem”. Os politiqueiros praticam a decadente política, usando de artifícios não corretos e injustos. Que em síntese é servir-se dos artifícios via os meios políticos convertidos em atos individualistas para favorecer um individuo, ou seus pares, num corporativismo singular e consolidado, (geralmente os partidos políticos com suas ideologias, pode haver exceções). O grande erro é a politicagem, que é a corrupção do termo política e sua pratica original. A manifestação ideológica, partidarista, onde os políticos se utilizam dos recursos políticos, para arrebatar seus interesses deturpados. Há uma Dicotomia entre política e politicagem e uma lacuna entre ideologia com idealismo. Contudo, o que é POLÍTICA? A política visa o bem comum dos cidadãos... A pratica política e sua gestão na sua origem vêm da Grécia Antiga. Cuja Práxis tinha como condição atender a polis, (cidade) fazendo do espaço público a condição de relações que favorece os cidadãos e fazer da polis um ambiente favorável a vivencia dos Cevitas (cidadãos). Nessa pratica, havia a negociação para compatibilizar os interesses de todos. Contudo, sempre visando o bem comum, da polis, e nesse processo havia o (ethos) ética; o critério era favorecer o todo e não às partes. Aristóteles observa que o homem é um ser que precisa de coisas e precisa dos outros, sendo assim, um ser necessitado e imperfeito, buscando a comunidade para alcançar a completude. E a partir disso, ele deduz que o homem é naturalmente um animal político. O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa o espaço que é público de onde a cidade faz parte. E politikós (dos cevitas, peculiar aos cidadãos), que se estenderam ao latim "politicus" cujos, políticos, atendem os cidadãos dentro do espaço publico ao qual fazem parte, nesse caso os habitantes da cidade (polis). Polis - Cidade, apreendida como a comunidade organizada, formada pelos cidadãos isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais. Como nada é perfeito, na Grécia antiga havia exclusão, das mulheres, escravos, e estrangeiros no processo político. Polis é o que chamamos, na Grécia Antiga, de Cidades-Estado. Os moradores das Polis eram os “politikos” (cidadãos), aqueles que exercem a civilidade. Política é um exercício de poder de favorecimento aos cidadãos, é canalizar o poder na conjuntura de beneficio aos residentes de uma cidade e seus direitos públicos e civis. Política é utilizar-se do poder para resguardar os direitos de cidadania e do bem comum dos moradores da cidade. Não é do poder de homem sobre outro homem, ou de um grupo de homens, sobre outros homens, ou de entidades partidárias sobre as pessoas, no sentido de usurpação dos direitos políticos do povo. Corrupção não é política e sim politicagem. Politicagem e deturpação de política. Politicagem contabiliza-se em atos inescrupulosos, que propendem o benefício oportuno individual e não ao bem comum dos cidadãos... Os politiqueiros desmoralizam a política...A política comprometesse, com as demandas da cidade; como saneamento, educação, saúde, segurança, leis e lazer que beneficiem o cidadão. E a palavra itica, conota administrar, logo política é também administra a cidade, ou administrar os cidadãos que estão na cidade. A estrutura da palavra política é bem abrangente, já que em todos os lugares há uma forma de política até mesmo em família, quando se tem um chefe de família que governa ou administra seus familiares; a sociedade é constituída por contingentes políticas que são designadas de política da educação, política social, política de saúde, política de segurança, política financeira, entre outras. A política articula melhorias e bem estar para toda uma sociedade. Deve-se ter a total clareza que o modelo de política não é politicagem... ___Outra coisa, não temos democracia real no Brasil. Democracia, do grego demos "povo" e kratia, "poder". Logo, Democracia, Na sua acepção significa: governo que emana do povo, em que a soberania deriva do povo e é exercida por ele: a democracia de Atenas era assim. A democracia é oriunda da Grécia e funcionava com a participação direta do povo, ou seja, Todos os cidadãos do sexo masculino eram livres para assistir às assembleias (ekklesias - assembleia nas ágoras que eram as praças publica) e decidir sobre os interesses comuns da polis, os quais debatiam e ratificavam as questões civis, normalmente quatro vezes por mês. Não havia partidos políticos organizados; contrariamente aos sistemas atuais, a democracia grega não se regia pela eleição dos representantes, as decisões respeitavam sim a opinião da maioria relativamente a cada assunto aberto ao debate. Cada cidadão era seu próprio representante e não havia obrigatoriedade do voto...

direitos reservados copyright André Assis

domingo, junho 14, 2015

Breve Síntese , Genealogia da Moral , Autoria de Fredrich Nietzsche.

______Diante de quais circunstâncias o homem idealizou os juízos de valor categorizados nas expressões bem e mal e que valor têm tais juízos? São símbolos de penúria, de empobrecimento, de degeneração da vida? Estas são as perguntas que norteiam todo livro de Nietzsche . O filosofo Alemão, esquadrinha em quais lugares históricos do pensamento da humanidade a moral e ética nasceram. Analisa a criação de conceitos fundamentais para a ética atual dentro do contexto em que foram criados. Nietzsche não está preocupado em expor se foi alguma divindade que ordenou ou não quais preceitos morais deverá seguir a humanidade, pois já chegou à conclusão de que os preceitos morais dizem respeito aos seres humanos apenas, logo não são transcendentes, porém, imanentes à natureza. _O livro se divide em tratados, assim dispostos: *1. A origem de “bem e mal” e “bom e mau”; *2. Falta, má consciência e fenômenos; *3. O que significam ideais ascéticos? _Escreve em forma de aforismos, que segundo o próprio Nietzsche, requer uma arte de interpretar, para compreender bem seus aforismos é preciso refletir muito. Não há como negar que Nietzsche seja polêmico, dada à forma como ele escreve seus textos, que sempre estão fundamentados de uma boa crítica de muitas questões.

quarta-feira, junho 10, 2015

Variações Sobre a Morte

__________"De tanto acumular mistérios nulos e monopolizar o sem-sentido, a vida inspira mais pavor do que a morte: é ela a grande Desconhecida.[...] Dê um objetivo preciso à vida: ela perde instantaneamente seu atrativo. A inexatidão de seus fins a torna superior à morte - uma gota de precisão a rebaixaria à trivialidade dos túmulos. [...] O abismo de dois mundos incomunicáveis abre-se entre o homem que tem o sentimento da morte e o que não o tem; apesar disso, os dois morrem; mas um ignora sua morte, o outro a sabe; um morre apenas um instante, o outro não para de morrer...Sua condição comum os coloca precisamente nos antípodas um do outro; nos dois extremos e no interior de uma mesma definição; inconciliáveis, sofrem o mesmo destino... Um vive como se fosse eterno; o outro pensa continuamente sua eternidade e a nega em cada pensamento.[...] Tudo o que prefigura a morte acrescenta uma qualidade de novidade à vida, a modifica e a amplia. A saúde a conserva tal qual, em uma estéril identidade; enquanto que a doença é uma atividade, a mais intensa que um homem pode desenvolver, um movimento frenético e... estacionário, o mais rico desperdício de energia sem gestos, a espera hostil e apaixonada de uma fulguração irreparável.[...] Contra a obsessão da morte, os subterfúgios da esperança revelam-se tão ineficazes como os argumentos da razão: sua insignificância só faz exacerbar o apetite de morrer. Para triunfar sobre esse apetite, só há um único 'método': vivê-lo até o fim, sofrendo todas as suas delícias e tormentos, nada fazer para escamoteá-lo. Uma obsessão vivida até a saciedade anula-se em seus próprios excessos.[...] Quem não se entregou às volúpias da angústia, quem não saboreou em pensamento os perigos da própria extinção nem degustou aniquilamentos cruéis e doces, não se curará jamais da obsessão da morte: será atormentado por ela por haver-lhe resistido; enquanto quem, habituado a uma disciplina de horror, e meditando sua podridão, reduziu-se deliberadamente a cinzas, esse olhará para o passado da morte e ele próprio será apenas um ressuscitado que não pode mais viver. Seu 'método' o terá curado da vida e da morte." Breviário da Decomposição - Variações Sobre a Morte, I, II e III. Emil Cioran.

Biografia :
Emile Michel Cioran , Rasinari , 1911 - Paris, 1995- filósofo francês de origem Romena cujo pensamento é caracterizada por extremo pessimismo e niilismo. Estudou filosofia em Bucareste, depois que ele escreveu uma tese sobre Bergson . Foi professor de filosofia em Brasov.

Albert Camus em O Mito de Sísifo.

_______
"De quem e de que, de fato, posso dizer "conheço isso?" Este coração, em mim, posso experimentá-lo e julgo que ele existe. Este mundo, posso tocá-lo e julgo ainda que ele existe. Para aí toda a minha ciência, o resto é construção. Porque, se tento agarrar este eu de que me apodero, se tento defini-lo e sintetizá-lo, ele não é mais do que uma água que corre entre meus dedos. Posso desenhar um por um todos os rostos que ele sabe usar, todos aqueles também que lhe foram dados, essa educação, essa origem, esse ardor ou esses silêncios, essa grandeza ou essa mesquinhez. Mas não se adicionam rostos. Até este coração que é o meu continuará sendo sempre, para mim, indefinível. Entre a certeza que tenho da minha existência e o conteúdo que tento dar a essa segurança, o fosso jamais será preenchido. Serei para sempre um estranho diante de mim mesmo."

segunda-feira, junho 08, 2015

Serenidade da Alma-

Marco Aurélio
___________Não examinar o que se passa na alma dos outros dificilmente fará o infortúnio de alguém; mas os que não seguem com atenção os movimentos das suas próprias almas são fatalmente desditosos. (...) Ser semelhante ao promontório contra o qual vêm quebrar as vagas e que permanece firme enquanto, à sua volta, espumeja o furor das ondas. - Que desgraça ter-me acontecido isto! Não, não é assim que se deve falar, mas desta maneira: - Que felicidade, apesar do que me aconteceu, eu não me mortificar, não me deixar abater pelo presente nem me assustar pelo futuro! Na verdade, coisa idêntica poderia suceder a toda a gente, mas bem poucos a suportariam sem se mortificarem. Por que razão considerar este acontecimento infortunado e aquele outro feliz? Em resumo, chamas de infortúnio para o ser humano aquilo que não é um obstáculo à sua natureza? E consideras um obstáculo à natureza do ser humano aquilo que não vai contra a vontade da sua natureza? Que queres, então? Conheces bem essa vontade; aquilo que te sucede impede-te, por acaso, de ser justo, magnânimo, sóbrio, reflectido, prudente, sincero, modesto, livre, e de possuir as outras virtudes cuja posse assegura à natureza do ser humano a felicidade que lhe é própria? Não te esqueças, doravante, contra tudo aquilo que te possa trazer aflição, de recorrer a este princípio: «Acontecer-me isso não é uma desgraça; suportá-lo corajosamente é uma felicidade.» Marco Aurélio, in 'Pensamentos e Reflexões'

domingo, junho 07, 2015

Com A Palavra o Filósofo__________________________ Sêneca

___Um é levado a destruir o outro por um ligeiro ganho, ninguém obtém lucro senão com o dano de outrem, odeiam quem é feliz, desprezam o infeliz, não suportam alguém superior, oprimem o inferior, são incitados por desejos diversos, querem que tudo se arrase em troca de um leve prazer ou espólio.Sua vida não é diferente da dos que convivem e lutam com os mesmos parceiros numa escola de gladiadores. É esse um agrupamento de feras, com a diferença de que elas são mansas entre si e se abstém de morder seus semelhantes, já eles são saciados pela mútua laceração. Somente nisto diferem dos animais: no fato de que estes se tornam mansos com quem os alimenta, e a raiva dos homens devora exatamente quem os nutriu. (Séneca, in "Sobre a Ira")

sábado, junho 06, 2015

*Uma história que vem da África*

_________________Prof. James Aggrey
Era uma vez um político, também educador popular, chamado James Aggrey: Ele era natural de Gana, pequeno país da África Ocidental. Até agora, talvez, um ilustre desconhecido. Mas, certa feita, contou uma história tão bonita que, com certeza, já circulou pelo mundo, tornando seu autor e sua narração inesquecíveis. Como muitas pessoas provavelmente não tiveram a oportunidade de ler sua história, nem de conhecer seu país, vamos inicialmente falar um pouco de Gana e relembrar aquela história. Gana está situado no Golfo da Guiné, entre a Costa do Marfim e o Togo. Sua longa história vem do século IV. Alcançou o apogeu entre 700 e 1200 de nossa era. Naquela época havia tanto ouro que até os cães de raça usavam coleiras e adornos com esse precioso metal. No século XVI Gana foi feita colônia pelos portugueses. E por causa do ouro abundante chamaram-na de Costa do Ouro. Outros, como os traficantes de escravos, denominavam-na também de Costa da Mina. No século XVIII, época do chamado ciclo da Costa da Mina, vieram dessa região, especialmente para a Bahia, cerca de 350 mil escravos. Com eles vieram e foram incorporados muitos elementos de sua cultura. O uso medicinal das folhas (ewé) que curam somente quando acompanhadas de palavras mágicas e de encantamento. E sua religião, o ioruba ou o candomblé, que possui uma das teologias mais fascinantes do mundo. Faz de cada pessoa humana uma espécie de Jesus Cristo, quer dizer, um virtual incorporador dos orixás, divindades ligadas à natureza e às suas energias vitais. Os escravos eram negociados em troca de fumo de terceira. Refugado por Lisboa, esse fumo era muito apreciado na África por causa de seu perfume. Dizia-se até: “a Bahia tem fumo e quer escravos; Costa da Mina tem escravos e quer fumo; portanto, façamos um negócio que é bom para os dois lados”. A maioria dos escravos das plantações de cana-de-açúcar nos Estados Unidos vieram também da região de Gana. A pretexto de combater a exportação de escravos para as Américas, a Inglaterra se apoderou desta colônia portuguesa. De início, em 1874, ocupou a costa e, em seguida; em 1895, invadiu todo o território. Gana perdeu assim a liberdade, tomando-se apenas mais uma colônia inglesa. A libertação começa na consciência A população ganense sempre alimentou forte consciência da ancestralidade de sua história e muito orgulho da nobreza de suas tradições religiosas e culturais. Em conseqüência, foi constante sua oposição a todo tipo de colonização. James Aggrey; considerado um dos precursores do nacionalismo africano e do moderno pan-africanismo, fortaleceu significativamente este sentimento. Ele teve grande relevância política como educador de seu povo. Para libertar o país – pensava ele à semelhança de Paulo Freire – precisamos, antes de tudo, libertar a consciência do povo. Ela vem sendo escravizada por idéias e valores antipopulares, introjetados pelos colonizadores. Com efeito, os colonizadores, para ocultar a violência de sua conquista, impiedosamente desmoralizavam os colonizados. Afirmavam, por exemplo, que os habitantes da Costa do Ouro e de toda a África eram seres inferiores, incultos e bárbaros. Por isso mesmo deviam ser colonizados. De outra forma, jamais seriam civilizados e inseridos na dimensão do espírito universal. Os ingleses reproduziam tais difamações em livros. Difundiam-nas nas escolas. Pregavam-nas do alto dos púlpitos das igrejas. E propalavam-nas em todos os atos oficiais. O marte lamento era tanto que muitos colonizados acabaram hospedando dentro de si os colonizadores com seus preconceitos. Acreditaram que de fato nada valiam. Que eram realmente bárbaros, suas línguas, rudes, suas tradições, ridículas, suas divindades, falsas, sua história, sem heróis autênticos, todos efetivamente ignorantes e bárbaros. Pelo fato de serem diferentes dos brancos, dos cristãos e dos europeus, foram tratados com desigualdade, discriminados. A diferença de raça, de religião e de cultura não foi vista pelos colonizadores como riqueza humana. Grande equívoco: a diferença foi considerada como inferioridade! Processo semelhante ocorreu no século XVI com os indígenas da América e com os colonizados da Ásia. E ocorre ainda hoje com os países que não foram inseridos no novo sistema mundial de produção, de consumo e de mercado global, como a maioria das nações da América Latina, da África e da Ásia. Elas são consideradas “sem interesse para o capital”, tidas, em termos globais, como “zeros econômicos” e suas populações vistas como “massas humanas descartáveis”, “sobrantes” do processo de modernização. São entregues à própria fome, à miséria e à margem da história feita pelos que presumem serem os senhores do mundo. Estes mostram, por isso, uma insensibilidade e uma desumanidade que dificilmente encontra paralelos na história humana. Infelizmente, a mesma discriminação acontece com os pobres e miseráveis, com as mulheres, os deficientes físicos e mentais, os homossexuais, os portadores do vírus HIV, os hansenianos e todos aqueles que não se enquadram nos modelos preestabelecidos. Todos são vítimas do preconceito e da exclusão por parte daqueles que se pretendem os únicos portadores da humanidade, de cultura, de saúde, de saber e de verdade religiosa. – Dominadores, vossa arrogância vos torna cruéis e sem piedade. Ela vos faz etnocêntricos*, dogmáticos* e fundamentalistas* .Não percebeis que vos desumanizais a vós mesmos? Reparai: onde chegais, fazeis vítimas de toda ordem por conta do caráter discriminador, proselitista e excludente de vossas atitudes e de vosso projeto cultural, religioso, político e econômico que impondes a todo mundo! A libertação se efetiva na prática histórica Toda colonização – seja a antiga, pela invasão dos territórios, seja a moderna, pela integração forçada no mercado mundial – significa sempre um ato de grandíssima violência. Implica o bloqueio do desenvolvimento autônomo de um povo. Representa a submissão de parcelas importantes da cultura, com sua memória, seus valores, suas instituições, sua religião, à outra cultura invasora. Os colonizados de ontem e de hoje são obrigados a assumir formas políticas, hábitos culturais, estilos de comunicação, gêneros de música e modos de produção e de consumo dos colonizadores. Atualmente se verifica uma poderosa “hamburguerização” da cultura culinária e uma “rockitização” dos estilos musicais. Os que detêm o monopólio do ter, do poder e do saber, controlam os mercados e decidem sobre o que se deve produzir, consumir e exportar. Numa palavra, os colonizados são impedidos de fazer suas escolhas, de tomar as decisões que constroem a sua própria história. Tal processo é profundamente humilhante para um povo. Produz sofrimentos dilaceradores. A médio e a longo prazo não há razões, quaisquer que sejam, que consigam justificar e tomar aceitável tal sofrimento. Aos poucos ele se torna simplesmente insuportável. Dá origem a um antipoder. Os oprimidos começam a “extrojetar” o opressor que forçadamente hospedam dentro de si. É o tempo maduro para o processo de libertação. Primeiro, na mente. Depois, na organização, Por fim, na prática. Libertação significa a ação que liberta a liberdade cativa. É só pela libertação que os oprimidos resgatam a auto-estima. Refazem a identidade negada. Reconquistam a pátria dominada. E podem construir uma história autônoma, associada à história de outros povos livres. – Oprimidos, convencei-vos desta verdade: a libertação começa na vossa consciência e no resgate da vossa própria dignidade, feita mediante uma prática conseqüente. Confiai.Jamais estareis sós. Haverá sempre espíritos generosos de todas as raças, de todas as classes e de todas as religiões que farão corpo convosco na vossa nobre causa da liberdade. Haverá sempre aqueles que pensarão: cada sofrimento humano, em qualquer parte do mundo, cada lágrima chorada em qualquer rosto, cada ferida aberta em qualquer corpo é como se fosse uma ferida no meu próprio corpo, uma lágrima dos meus próprios olhos e um sofrimento do meu próprio coração. E abraçarão a causa dos oprimidos de todo o mundo. Serão vossos aliados leais. James Aggrey incentivava em seus compatriotas ganenses tais sentimentos de solidariedade essencial. Infelizmente não pôde ver a libertação de seu povo. Morreu antes, em 1927. Mas semeou sonhos. A libertação veio com Kwame N’Krumah, uma geração após. Este aprendeu a lição libertária de Aggrey: Apesar da vigilância inglesa, conseguiu organizar em 1949 um partido de libertação, chamado Partido da Convenção do Povo. N’Krumah e seu partido pressionaram de tal maneira a administração colonial inglesa, que o governo de Londres se viu obrigado, em 1952, a fazê-lo primeiro ministro. Em seu discurso de posse surpreendeu a todos ao proclamar: “Sou socialista, sou marxista e sou cristão”. Obteve a sua maior vitória no dia 6 de março de 1957 quando presidiu a proclamação da independência da Costa do Ouro. Agora o país voltou ao antigo nome: Gana. Foi a primeira colônia africana a conquistar sua independência. Gana tem hoje 238.537 quilômetros quadrados, com densa selva tropical ao sul, atravessada pelo grandioso rio Volta de 1.600 quilômetros de comprimento. A represa Akossombo, feita com o rio, forma um imenso lago de 8.482 quilômetros quadrados, numa extensão de quatrocentos quilômetros. A capital é Accra, com ,cerca de 700 mil habitantes numa população total de 16,4 milhões de pessoas. Estima-se que 2000 Gana terá 20 milhões de habitantes. Se aplicarem os ideais de James Aggrey, consolidarão sua identidade e autonomia. E avançarão pouco a pouco no sentido de uma cidadania participativa e solidária. Repoduzido do livro “A águia e a galinha” de Leonardo Boff. Editora Vozes

sexta-feira, junho 05, 2015

A PARÁBOLA NARRADA POR, JAMES AGGREY.

UMA BREVE RESENHA do LIVRO A ÁGUIA E A GALINHA , DE LEONARDO BOFF.
________A parábola da Águia e a Galinha Auferiu muitas versões e muitas interpretações, varias publicações foram produzidas no mundo. Na verdade ela é de autoria de Um educador Ganense, James Aggrey, um Paulo Freire para Gana. Aggrey escreveu essa pequena narração sobre uma águia que, criada entre galinhas, não queria voar como um lembrete aos povos Africanos, então sob dominação Europeia. Ele queria mostrar a eles que a riqueza de suas culturas e tradições seguia viva, a despeito da opressão; pretendia redespertá-los para sua grandeza esquecida: seu majestoso destino de águias, e não de submissas galinhas. Uma lição muito bem-vinda, a todos os povos, de todas as épocas e continentes. Aqui no Brasil foi narrada por Leornado Boff, no livro sob o titulo: A Águia e Galinha – uma metáfora da condição humana, publicado pela editora vozes, Petrópolis, RJ: 1997.Vozes. Leonardo Boff é Teólogo (PhD e Filósofo Dr., doutorou-se em Filosofia e Teologia na Universidade de Munique, Alemanha). foi Franciscano e é um dos pais da Teologia da Libertação. Por vários anos esteve à frente do editorial religioso da Editora Vozes. Teve inúmeros conflitos com a Igreja Católica, sendo proibido de dar aulas por um determinado período e a fazer um ano de silêncio( Silêncio Obsequioso) . Mais tarde foi professor de Ética e Filosofia da Religião na UERJ. É autor de mais de sessenta livros ligados à teologia, à filosofia, à espiritualidade e à ecologia. Boff é hoje , o Teólogo Brasileiro , com publicações e livros traduzidos mais lido no mundo. Laureado com muitos títulos , entre eles o o título de 'Doutor Honoris Causa' da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no dia 10 de setembro de 2012, (cuja cerimônia estive presente) e respeitado em outras tradições religiosas. Como escritor,Leonardo Boff diversifica suas obras entre livros de filosofia, teologia, espiritualidade e ecologia. É membro da Comissão da Carta da Terra. desde 2002. Boff Lista com um dos intelectuais brasileiros
No caso de A Águia e A Galinha, a condição humana é grandiosamente explorada e mostrada como uma relevante história que versa sobre possibilidades, limites, aceitação, desejo e o simbólico. Quando uma águia é encontrada na floresta por um camponês, esse a leva com ele e a deixa em um galinheiro. Acreditando que estava cuidando do animal ferido, a deixa junto com galinhas e passa a cria-la como tais. Com o tempo passando e sua nova “rotina” aviária, a águia começa a se portar como uma galinha e seu modo de vida vai sendo alterado, se adaptando, até a chegada de um naturalista que visita o camponês, que discute sobre a condição em que o animal está sendo tratado. Entre a defesa do naturalista de que a águia nunca poderia ter sua natureza alterada e o discurso do camponês sobre aceitação à nova vida de galinha que a ave de rapina foi sujeitada, o livro vai contando sobre a condição instintiva das duas aves e com o passar das páginas, podemos entende um pouco mais sobre como a nossa própria condição humana é retratada a partir das qualidades e essências de cada uma das duas aves. A metáfora contida na narrativa exposta retrata questões de auto-estima, estado de superação e abrange também como cada ser é dotado de particularidades que não podem ser alteradas ou simplesmente suprimidas. Enquanto a águia se encontra em momentos de limitações entre as galinhas, o naturalista e o camponês debatem sobre o que ela pode e consegue fazer. Um acredita veementemente na força instintiva de sua natureza, enquanto o outro rebate esclarecendo que sua natureza não mais lhe pertence. Mas quando uma ocasião de “tudo ou nada” é imposta à sua frente, os olhos da águia se enchem com a claridade do sol e então ela abre suas enormes asas e voa para o céu, soberana de sua realidade e “entendendo” que seu limite está além de um galinheiro junto à outra espécie. Aceitando que é maior do que certas imposições, a águia reaprende que não é uma simples galinha e volta a viver de acordo como o que sua condição basilar lhe concede. Assim é com o homem e sua eterna guerra interna sobre o que consegue ou não, pode ou não, ser ou não ser. Todos podemos tirar conclusões sobre quem somos, de onde viemos, para onde vamos e sempre esses questionamentos nos afligirão em situações que nos encontramos como galinhas oprimidas, mas quando entendemos e percebemos que somos mais e podemos mais, nada pode impedir a natureza de seguir seu curso e evoluir. _Reproduzo parte do texto do Livro a Águia e a Galinha de Leonardo Boff, pagina 40._ “Recusamo-nos a ser somente galinhas. Queiramos ser também águias que ganham altura e que projetam visões para além do galinheiro. Acolhemos prazerosamente nossas raízes (galinha), mas não à custa da copa (águia) que mediante suas folhas entra em contato com o sol, a chuva, o ar e o inteiro universo. Queremos resgatar nosso ser de águias. As águias não desprezam a terra, pois nela encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar na terra, senão para voar nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes. Hoje, no processo de mundialização homogeneizadora, importa darmos asas à águia que se esconde em cada um de nós. Só então encontraremos o equilíbrio. A águia compreenderá a galinha e a galinha se associará ao vôo da águia. Na nossa atual humanidade e em nosso planeta, assistimos aos mandos e desmandos dos mais fortes, dos detentores do saber, do ter e do poder, que querem controlar, para nos reduzir a simples galinhas e nos subordinar aos seus interesses, mas é preciso que não aceitemos essa submissão, que rejeitemos os conformismos, os comodismos, porque essa dominação sempre será causadora de muitos sofrimentos à maioria da humanidade diante da pobreza e da exclusão social, por isso é necessário que despertemos a águia que existe dentro de nós para juntos construirmos um mundo melhor, onde todos possam participar e decidir sem omissões, libertando-se da opressão”. <b>Referência Bibliográfica: BOFF, Leonardo. A Águia e a Galinha, a metáfora da condição humana. Pagina 40 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. _A parábola narrada por , James Aggrey._
__Era uma vez um camponês que foi a floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Coloco-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: - Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia. - De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu criei como galinha. Ela não é mas uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão. - Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar ás alturas. - Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não a terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou: - Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! - Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga: - Eu lhe havia dito, ela virou galinha! - Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez. Amanhã a farei voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: - Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergue-se, soberana, sobre se mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para o alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento... E Aggrey terminou conclamando: - Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos . Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

_________Copyright André Assis. Todos os direitos reservados.