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quinta-feira, junho 18, 2015

O Anarquismo e sua História

(Os Créditos do texto pertence ao M.L.E Movimento Libertário Estudantil) _ No sentido comum, a anarquia sempre foi o caos, a desordem. A palavra transformou-se em sinônimo de bagunça e os cronistas e maioria dos historiadores de hoje jamais lograram repor o significado veraz de um passado glorioso e, no mínimo, construtivo. Por paradoxal que pareça, anarquia não é bagunça, muito menos desordem. Mas não é com apenas uma pequena dose de purgante que se limpam quase dois séculos de distorções acumuladas na cabeça dos homens e alimentadas dia a dia. A idéia de caos na sociedade está bem distante do que um dia pensou Tolstoi, Godwin, Thoreau ou Kropotkin (pensadores anarquistas). A palavra ANARCHOS, em grego, pode ser usada para definir desordem na falta de um governo, ou quando não existe necessidade dele. Portanto, anarquia, etimologicamente quer dizer sem governo, sem autoridade, sem superiores. Somente. Os franceses tiveram a honra de usar a palavra pejorativamente pela primeira vez. Durante a Revolução Francesa, os girondinos usaram-na para injuriar seus adversários da esquerda. Brissot xingava os Enragés de anarquistas. Robespierre foi vítima da mesma pecha. Coube a Pierre-Joseph Proudhon a recuperação e cunhagem do termo anos depois, ao reivindicar para si o título de anarquista, usando-o de maneira positiva e aproveitando a ambigüidade da palavra original grega. Sebastien Faure, outro teórico anarquista, diria depois: "quem negue a autoridade e a combate é um anarquista". Woodcock, em 1960, completou a definição relativizando-a: "todo anarquista nega a autoridade, muitos a combatem". E a idéia do caos continua distante. O que atualmente se sabe dos anarquistas foi plantado seguramente com a aparição, no cenário político, de Bakunin, um russo curioso e instigante. Antes dele os historiadores detectam outros personagens fora do contexto conturbado da luta política, das barricadas, das reuniões internacionais, das greves e das fugas espetaculosas. Willian Godwin, Thoreau ou Max Stiner, por exemplo, desenvolveram seus projetos à parte do movimento dito anarquista, frutos apenas do espírito do tempo. Todos os anarquistas concordam que o homem possui, por natureza, todos os atributos necessários para viver em liberdade e concórdia social. Não acreditam que o homem seja bom por natureza, mas estão convencidos de que o seja por natureza social. A isto Proudhon dá o nome de "imanente senso humano de justiça". Kropotkin acha que uma sociedade livre seria uma sociedade natural. Godwin raciocina no sentido de que se o homem é por natureza capaz de viver em uma sociedade livre, é evidente que aqueles que tentarem impor leis serão os verdadeiros inimigos da sociedade. Neste caso, o anarquista, ao contrário do emérito destruidor, seria o regenerador que vai restabelecer o equilíbrio necessário à sociedade. Quem fala em equilíbrio não pensa em caos. O ódio visceral de todos os anarquistas é contra este leviatã da sociedade moderna, este organismo imenso e todo-poderoso, a síntese da autoridade e da centralização, a espada de Dâmocles que, pendida sobre a cabeça de cada cidadão, foi paulatinamente conquistando o poder político, econômico e social: o Estado. Todos o fulminam com invectivas e adjetivos. Consideram-no seu inimigo. E os anarquistas não fizeram mais, até hoje, do que combater o Estado, o governo, a autoridade. Certo, todos hão de convir, jamais se encontrará na história do anarquismo, se olhada desde o ponto de vista oficial, uma vitória maior e duradoura. O anarquismo, grosso modo, talvez possa significar também comunidades federadas e autônomas. Por isto os anarquistas criticam em primeiro lugar a democracia burguesa que criou e garantiu a existência permanente de uma aristocracia governamental e nunca deixam de denunciar o sufrágio universal. Rejeitam categoricamente a participação política no Estado e boicotam as urnas. Profetizaram o fracasso do comunismo de Estado e denunciaram o autoritarismo presente em Marx quando o combateram dentro de sua organização, a I Internacional, e levaram a melhor. Antológica a observação de Kropotkin, na Rússia, em outubro de 1917, quando os bolcheviques publicaram os primeiros decretos tornando oficial o que já era fato consumado, a expropriação das terras e das indústrias, criticando a usurpação pelo Estado do que já era conquista de massas trabalhadoras: "Eles estão sepultando a revolução". Pode-se argumentar que outra atitude não seria possível aos bolcheviques no momento. Mas tanto Kropotkin como os outros anarquistas foram até a morte contrários à tomada de poder, à tomada do Estado. Defendiam sua abolição. Outro fundamento básico é que cada comunidade, cada indivíduo, para os anarquistas, deve determinar sua vida. As minorias têm todo o direito de discordar e fazer diferentemente, o homem precisa ser livre. Ingenuidade? Talvez. Não há como negar este componente e todas as formulações ácratas (acracia significa, em grego, sem governo; é sinônimo de anarquia). Na comunidade ou fora dela alguém só pode ser livre se os outros também o forem, ensinou Bakunin num momento caloroso de seu histórico debate dentro do movimento internacional dos trabalhadores. Seu discurso foi particularmente interessante: "Detesto a comunhão, porque o comunismo concentra e engole, em benefício do Estado, todas as forças da sociedade; porque conduz inevitavelmente à concentração da propriedade nas mãos do Estado, enquanto eu proponho a abolição do Estado, a extinção definitiva do princípio mesmo da autoridade e tutela, próprios do Estado, no qual, com o pretexto de moralizar e civilizar os homens, conseguiu até agora somente escravizá-los, persegui-los e corrompe-los. Quero que a sociedade e a propriedade coletiva ou social estejam organizadas de baixo para cima por meio da livre associação e não de cima para baixo mediante autoridade, seja de que classe for. Proponho a abolição do Estado, proponho ao mesmo tempo a abolição da propriedade pessoal recebida em herança, a qual não é senão uma instituição do Estado, uma conseqüência direta dos princípios do Estado. Eis aí senhores por que eu sou coletivista e não comunista". Nenhum centro de poder poderia obrigar ninguém a trabalhar. Cada pessoa seria o juiz de suas próprias exigências, tomando dos armazéns comuns tudo que considerasse necessário, contribuindo ou não com sua parte no trabalho. Este que foi considerado o generoso otimismo de Kropotkin levou-o a estabelecer que, uma vez eliminados o poder político e a exploração econômica, todos os homens trabalhariam voluntariamente, sem nenhum tipo de obrigação e não pegariam dos armazéns comunais nada mais do que o necessário para uma existência confortável. Baseavam-se na convicção de que a libertação, antes de ser coletiva e material, tinha que ser individual e mental. Para os anarquistas sindicalistas a GREVE GERAL é o supremo instrumento estratégico revolucionário. Concebem a sociedade formada de produtores de um lado e parasitas do outro. O sindicato une estes produtores com uma única finalidade: a luta. Por isso é válida toda e qualquer forma de paralisação ou greve que manifeste as insatisfações dos sindicatos e é importante que ocorra a adesão dos companheiros de sindicatos em solidariedade aos colegas. Lembrando que não é, para os anarquistas, da obrigação de cada sindicalista aderir ao movimento do grupo. A liberdade de escolha é sempre respeitada. Isso pode se dar em todos os tipos de grupos sociais como os estudantes e professores nos colégios, rodoviários, comerciantes, etc... No final do século passado e no começo deste, imbuídos do fervor anarquista, a maioria dos sindicatos franceses tomou posições hostis frente ao Estado e foi contrária à tomada do poder político. Inclinou-se para uma revolução social que destruiria o sistema capitalista e inauguraria uma sociedade sem Estado, cuja economia seria dirigida por uma confederação geral de sindicatos. No Brasil é famosa sobretudo a greve geral de 1917 que se alastrou por TODO O PAÍS, organizada e comandada pelos militantes anárquicos aqui radicados, muitos dos quais depois perseguidos pela repressão do Estado e pelo stalinismo, que literalmente tentou arrasar com o anarquismo em todo o planeta - tendo-o logrado completamente na URSS. Mas apesar dos mesquinhos estereótipos e repressões destinados ao movimento anarquista, enquanto o Estado (que tem se demonstrado medíocre, autoritário e fraudulento, tanto no Brasil como em outros países) existir, militantes libertários estarão ativos em seus bairros, universidades, colégios, internet, trabalhos ou sindicatos pela insubmissão, liberdade, apoio-mútuo e autogestão! ( Movimento Libertário Estudantil )

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